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Melatonina, mais do que um “hormônio do sono”!


A melatonina é uma molécula antiga e onipresente na natureza, apresentando múltiplos mecanismos de ação e funções em praticamente todo organismo vivo. Em mamíferos a melatonina funciona como um hormônio e um cronobiótico, desempenhando importante papel na regulação da ordem temporal circadiana interna ( RELÓGIO BIOLÓGICO) . A melatonina, conhecida como “o hormônio do sono”, regula os ciclos circadianos (dormir-acordar), sendo a sua produção estimulada pela escuridão e inibida pela luz.


Diferentemente dos hormônios dependentes do eixo hipotálamo-hipofisário, a produção de melatonina não está sujeita a mecanismos de retroalimentação ( feed back negativo) sendo que, portanto, a sua concentração plasmática não regula sua própria produção, isto quer dizer que usar melatonina de forma exógena não influencia na produção endógena da mesma.

A escuridão é o requisito absoluto para a sua produção e liberação e a luz rapidamente suprime a sua síntese. Esta é a razão da concentração de melatonina no sangue e nas células ser 3 a 10 vezes maior à noite. Quando o indivíduo acorda e recebe a luz intensa do sol da manhã a melatonina se transforma em serotonina, hormônio do bom humor. A melatonina também é produzida na retina e no trato gastrointestinal.


Durante o envelhecimento a produção de melatonina sofre um declínio gradual. Nas pessoas com idade superior a 75 anos, o seu ritmo de síntese nas 24 horas é somente uma pequena fração daquele observado nas pessoas de 20 a 30 anos, o que faz atribuir à melatonina um possível papel nas fases iniciais e no desenvolvimento das doenças degenerativas da idade.


Diversos estudos já relacionaram distúrbios do sono a problemas de saúde, incluindo maiores riscos de depressão, obesidade , diabetes e cancer . Porém, são poucos aqueles que conseguiram explicar de que forma isso acontece — a maioria apenas identificou uma maior prevalência dessas condições em pessoas que dormem mal.


A redução da produção de melatonina pode ser atribuída a vários fatores, como a carência nutricional, a associação de substâncias químicas e remédios, o estresse e o processo de envelhecimento. Sob estresse, o indivíduo passa a produzir mais cortisol e adrenalina, que por sua vez também levam à produção de radicais livres, tornando as células mais propensas à ocorrência de uma lesão.


A produção de melatonina depende ainda do triptofano. Este aminoácido está em alimentos como leite e laticínios, nozes, castanhas e batatas. Também em frutas como banana e abacate, que são ricas em triptofano e auxiliam o organismo na fabricação de melatonina.

Se você quer que a melatonina ajude-o a ter um bom sono, é necessário ter uma rotina diária. Procure fazer as refeições na mesma hora de cada dia, dormir e acordar no mesmo horário assim outras tarefas do seu dia. Isso auxilia seu organismo a produzir melatonina sempre no mesmo horário.

A estratégia funciona também para abater jet lag. Se o sono ficar bagunçado com a mudança de fuso horário, tente manter outros fatores constantes para acertá-lo. Também já foi comprovado por estudos, que a administração de melatonina pela manhã, reduz o efeito do jet lag.


MELATONINA COM ANTI OXIDANTE E ANTI ENVELHECIMENTO


A melatonina faz mais do que ajudar você a ter um bom sono. O hormônio também é um antioxidante bastante potente. “Comparado com outras substâncias da mesma categoria, como as vitaminas E e C, a melatonina é mais eficaz em prevenir danos celulares provocados por radicais livres

Outro estudo realizado por uma equipe de pesquisadores espanhóis, chefiada por Darío Acuña Castroviejo, diretor da Rede Nacional de Investigação do Envelhecimento, da Universidade de Granada. O estudo, que se baseou na análise de ratos normais e geneticamente modificados, concluiu que “os primeiros sinais de envelhecimento em tecidos animais começam aos cinco meses (nos ratos) – equivalente a 30 anos nas pessoas – por aumento dos radicais livres (oxigênio e nitrogênio), que causam uma reação inflamatória”, segundo o pesquisador.


Esse “stress oxidativo”, acrescentou, tem efeitos no sangue dos animais, já que se provou que “as células sanguíneas se tornam mais frágeis com os anos e as suas membranas mais vulneráveis a rupturas”. Ao administrar pequenas quantidades de melatonina aos animais, os investigadores observaram não só que essa substância neutralizava o estresse oxidativo e o processo inflamatório causado pelo envelhecimento, como retardava os seus efeitos, aumentando por isso a longevidade.


A investigação concluiu que a administração crônica de melatonina em animais a partir do momento em que deixam de produzir essa substância (aos cinco meses nos ratinhos) ajuda a contrariar todo o processo de envelhecimento. Do mesmo modo, o consumo diário de melatonina pelos humanos a partir dos 30 ou 40 anos poderá prevenir – ou pelo menos retardar – doenças relacionadas com o envelhecimento, os radicais livres e os processos inflamatórios.



MELATONINA E ENXAQUECA


Uma pesquisa brasileira mostrou que a melatonina, hormônio produzido no nosso cérebro que atua na regulação do sono e do relógio biológico, é eficaz na prevenção de enxaqueca em pessoas que têm crises com frequência. Segundo o estudo, coordenado por Mario Peres, neurologista do Hospital Albert Einstein e da Escola Paulista de Medicina, pílulas contendo a substância parecem ser melhores para evitar as fortes dores de cabeça do que um dos medicamentos mais utilizados atualmente com essa finalidade, a amitriptilina.

O neurologista acredita que os resultados de sua pesquisa têm potencial para tornar possível a aprovação da substância no mercado brasileiro. E não somente isso: “Nosso estudo é um trabalho grande, randomizado e que compara a melatonina a outro remédio e ao placebo. É o primeiro grande estudo que mostra que o hormônio funciona e é seguro na prevenção da enxaqueca. É uma base científica consistente para que os médicos passem a recomendar a substância no tratamento do problema”, afirmou Peres.

Na enxaqueca, níveis diminuídos de melatonina e alteração na sua curva de secreção foram detectados. Clinicamente, crises podem ocorrer à noite, mudanças de ritmo de sono desencadeiam crises de enxaqueca, pacientes com enxaqueca dormem menos, têm latência de sono maior,e mais despertares noturnos. Estudo em duzentos pacientes com enxaqueca episódica e crônica revelou que pacientes que mudaram seu horário de sono, ou relataram viagens cruzando fusos horários, relataram piora das crises. Foi relatada em pacientes com enxaqueca crônica alteração dos níveis de melatonina com avanço do seu pico, níveis menores em insônia, apontando para uma disfunção cronobiológica.


MELATONINA E OBESIDADE

Evidências experimentais demonstram que a melatonina é necessária para a síntese, secreção e ação apropriadas da insulina. A melatonina age egulando a expressão da GLUT4 e/ou disparando, via receptores de membrana acoplados à proteína G, a fosforilação do receptor de insulina e seus substratos intracelulares, ativando a via de sinalização da insulina.

Além disso, a melatonina é responsável pelo estabelecimento de um balanço energético adequado, principalmente pela ativação do tecido adiposo marrom e pela participação no processo de transformação do tecido adiposo branco em marrom.

A redução na produção da melatonina, como durante o envelhecimento, turnos de trabalho noturnos e/ou de madrugada ou ainda ambientes iluminados durante a noite, induzem resistência à insulina, intolerância à glicose, distúrbios do sono e desorganização do metabolismo circadiano, caracterizando um estado de cronorruptura que leva à obesidade.

Os pesquisadores do departamento de Fisiologia e Biofísica do instituto de Ciências Biomédicas da USP, do Laboratório de Farmacologia do Instituo Butantan e do Departmento de Biologia Celular e Estrutural do UT Health Science Center, San Antonio, no Texas (EUA) concluíram, em um trabalho publicado no J. Pineal Res. 2014, que as evidências disponíveis apoiam a sugestão de que a terapia de reposição da melatonina pode contribuir para restaurar um estado mais saudável do organismo.


MELATONINA E CÂNCER


As primeiras correlações entre a glândula pineal e o combate ao câncer datam do final do século XIX , quando alguns médicos já ofereciam extratos de pineal a seus pacientes oncológicos. Em estudo pioneiro realizado em 1981, foi injetado o DMBA (7, 12-dimetil-benzo-antraceno), substância que estimula o aparecimento de câncer de mama, em um grupo de ratas divididas em um grupo que receberia a MELATONINA e outro não. Ao fim de noventa dias, 50% das ratas que não receberam MELATONINA presentaram tumores, ao passo que nenhuma rata que recebeu o hormônio desenvolveu tumores. Cessada a administração de MEL ao grupo tratado, 20% dos animais apresentaram tumores. Foi observada a redução de 31% da MEL na urina de mulheres com câncer de mama, além da redução do pico noturno do hormônio em pacientes com esta doença. Observou-se crescimento de tumores e tendência à metastatização após a pinealectomia ( retirada da glandula pineal) . Em 1987 o primeiro ensaio clínico para avaliação da resposta do hormônio em humanos foi realizado por Lissoni et al., que utilizaram a MEL no tratamento de 20 pacientes com tumores avançados, com resposta positiva em 6 pacientes


MELATONINA E DIABETES TIPO 2


Mas uma pesquisa feita no Hospital Brigham and Women, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, concluiu que a diminuição da secreção de melatonina, está relacionada a uma chance maior de desenvolver diabetes tipo 2 em adultos. Segundo os pesquisadores, essa é a primeira vez em que a produção do hormônio é associada à doença. A melatonina é um hormônio fundamental para regular o relógio biológico de uma pessoa e assim, controlar o sono, a fome e diversas funções do organismo.

Os autores relataram no artigo que mesmo entre pessoas que não apresentam diabetes, baixos níveis noturnos de melatonina estão relacionados a um aumento da resistência à insulina. A conclusão foi publicada no periódico The Journal of the American Medical Association (JAMA).


MELATONINA E CÂNCER DE MAMA


Uma pesquisa realizada por cientistas da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) em colaboração com colegas do Hospital Henry Ford de Detroit, em Michigan, nos Estados Unidos, e publicado em janeiro na revista PLoS One, esclareceu que essa capacidade do hormônio se deve ao papel que ele pode desempenhar no controle da formação de novos vasos sanguíneos a partir da vasculatura já existente do tumor, denominada angiogênese.O estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto “Avaliação da angiogênese em resposta ao tratamento com melatonina no câncer de mama: estudo in vitro e in vivo”, realizado com apoio da FAPESP.“Constatamos que a melatonina consegue inibir o crescimento tumoral e a produção de células cancerosas, além de bloquear a formação de novos vasos sanguíneos do tumor em modelos animal [in vivo] e celular [in vitro]”, disse Debora Aparecida Pires de Campos Zuccari, professora da Famerp e coordenadora do projeto, à Agência FAPESP.

Referências bibliográficas:

  • Journal of the American Medical Association (JAMA), april 2012.

  • Melatonina, aminoácidos e a fisiopatologia da enxaqueca:a ponta ou o fragmento do iceberg?

  • A Glândula Pineal e o Metabolismo de Carboidratos

  • Melatonina e câncer – revisão da literatura Melatonin and cancer – a review of the literature

  • Cipolla-Neto, J; Amaral, FG; Afeche, SC; Tan, DX e Reiter, RJ. Melatonin, energy metabolism, and obesity: a review. J. Pineal Res. 2014. Doi:10.1111/jpi.12137-

  • Effect of Melatonin on Tumor Growth and Angiogenesis in Xenograft Model of Breast Cancer Bruna Victorasso Jardim-Perassi, Ali S. Arbab, Lívia Carvalho Ferreira, Thaiz Ferraz Borin, Nadimpalli R. S. Varma, A. S. M. Iskander, Adarsh Shankar, Meser M. Ali, Debora Aparecida Pires de Campos Zuccari

  • Pesquisa esclarece como a melatonina pode inibir o câncer de mama http://agencia.fapesp.br/pesquisa_esclarece_como_a_melatonina_pode_inibir_o_cancer_de_mama/18843/

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